21/02/2011

Cetim



roçando minha pele
encharcando de luxúria
meus sentidos
:
mãos
seda
e lábios
estão além
de gênero

mas peitos
e sutilezas:
só fêmina

jorro delicadezas
na ponta-gêmea
de outra língua

08/07/2009

Crença pagã


se meu amor
é devoção
sexo
é minha oração

com falo, dedo, língua
em qualquer canto do corpo
digo amém
à imaginação


*img de autoria desconhecida - 1948


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02/07/2009

Senhora dos desejos


Olhei os degraus à frente, imaginando os olhos do homem à minhas costas. Foram aqueles olhos que me trouxeram ali. Olhos que sorriam maliciosos raios negros. Ao terminar a subida, vi-me num grande espelho. Uma corrente de calor subiu até o rosto,me deixando pêssego maduro. Culpa do olhar que o espelho refletia desejo.
Como aconteceu a primeira transa eu não saberia dizer. Sabia apenas que fora o início de uma inundação que se transformou em rio caudaloso e sôfrego. Meu corpo pedia para ser descoberto por inteiro. O corpo dele queria engolir cada pedaço do meu. Era como se estivéssemos vivendo a nossa primeira vez. De um desejo novo veio o convite. E minha boca sussurrou-o no ouvido do macho. Os olhos escuros, agora quase fechados, me olharam maravilhados. O carinho intensificou-se. Virei sua porcelana rara.
Como a negar-me o desejo, iniciou um passeio úmido e lento por cada pedacinho do meu corpo. Sua boca quente ia me arrancando arrepios e me transformando em gemidos enlouquecidos. Fez uma pausa a me olhar. Pareceu-me séculos de olhos rompendo minha pele. Depois, carinhosamente, me virou e mordeu-me a nuca. Era o macho subjugando a fêmea de forma natural, ancestral. Eu, puro instinto. Ele, rigidez. Todas as censuras estavam mortas. Queria-o inteiro dentro de mim – descobrindo-o e descobrindo-me. A voz rouca enlouquecia meus ouvidos. A boca descendo pelas costas incendiava meus desejos num convite a novas experiências. Irresistível. Em ritmo lento e lascivo meu corpo foi assumindo a posição da cópula animal. Senti a umidade da língua aquecendo-me por trás a parte interna das coxas, subindo e explorando minhas cavidades. O orgasmo veio vulcânico. Era apenas o primeiro da série que se anunciava.
Ao ver-me enlouquecida, ele se fez dono e senhor do meu corpo. A dor me fez gritar. Mas assim como veio arrasando, virou prazer. Era um prazer novo, louco, arrasador. Ali me desmanchei em gozos sucessivos até que o ouvi gritar. Como nunca antes, senti-me senhora dos desejos e do prazer do homem. A menina era uma Mulher.

*img de Jana Vieras

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28/06/2009

Travessilha


num ludismo
que não ilude o cio
minha libido
te fará amor nos ouvidos

te devorarei
e te tornarei rio

depois me abrirei
toda flor
para ser devorada
pela haste híbrida
do teu desejo

e túrgidos
libertaremos
num dueto mimético
nosso gozo
sonoro e secreto
de mais uma travessilha




*img do site Lux Feminae

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25/06/2009

À espera

Quero um homem, qualquer homem, que tenha a habilidade de me descentrar. Quero um homem, qualquer homem, que saiba me fazer rodopiar na gramática em busca de verbos pagãos. E escorregar na urgência de errar a ortografia da língua no céu da pele. Eu quero este homem acima dos dez segundos de pensamentos que reservo a cada um daqueles que fazem sonhar os meus sentidos.
Este homem existe. Sei que existe. Estou a esperá-lo, ainda que seja preciso um contínuo comprar de ilusões. Ainda que seja preciso transformar meus perfumes em nuvens de tensão. E quando o encontrar, eu o amarei com dentes, língua e devoções. Depois o farei dormir entre meus seios e o cobrirei com o calor da minha satisfação.

*img de autoria desconhecida



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23/06/2009

Súplica



morda-me a boca
vire-me do avesso
mas me deixe ir além

deixe que eu roube
de teus lábios
melodia
e entre tuas pernas
eu seja poesia

quando em teu desejo
só minha pele existir
cubra-me de espantos

e mate
até o último suspiro
esta fome de te ser
por inteiro




*img José Manchado

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19/06/2009

Reencontro


Chegou ribombando minhas entranhas com seu jeito de fera traída. A revolução dos meus sentidos irrompeu pelos poros enquanto o vinho tinto manchava a carne sedenta de cios. Entre cheiro de uva passada e esperma grudando nas curvas, meus gritos preencheram o silêncio marcado no calendário da espera. Lágrimas e orgasmos viraram pérolas entre seus dentes e meu cálice encheu-se de sua cólera. Fizemos da noite uma serenata de festivos madrigais. E o dia seguinte rompeu em harmonia com o tesão. Sem conceitos preconcebidos ou prazos vencidos.

* img de sombra de prata




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17/06/2009

Seios





frutos maduros
em tuas mãos

bicos rijos
entre dedos e língua

dança de delírios
insinuando sabores
à fome
do meu sexo
:
motores sanguíneos
dos meus sentidos gozosos





*img de Daniel Pedrogam

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Contraponto




Você e eu
somos fonemas
(poema?)
de inacabada
alquimia

Se te como na cama
(puta?)
você perde o tom

Se te bebo à mesa
(dama?)
você se molha em tesão

*img de Tuta
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Fome


À mesa
nossas carnes são ansiosas

Há sede na saliva
e
cuspimos amor
no abrir e fechar
das bocas famintas

Sob a mesa
o tempo despenca
no apetite
entre pernas

Vingativa
a fome nos possui

Ali mesmo
sem espera
as carnes se misturam

Cinesia
entre taças
pratos
e tesão




*img de Nuno M Batista




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